Trilha Cachoeira da Fumaça – Chapada Diamantina
“Trilha da Cachoeira da Fumaça, na Chapada Diamantina, agora possui uma passarela para atravessar um trecho do rio, tornando-a menos impactante para o meio ambiente e mais confortável para o visitante.” A notícia me fez retornar ao ano de 2017.
Éramos os únicos hóspedes em nosso hostel e optamos por tomar café da manhã no outro prédio junto com a moçada.
Sim. Eu e D., apesar de nossos (muitos) cabelos brancos, estávamos hospedados num hostel. Achamos que seria a hospedagem ideal para nossa viagem à Chapada Diamantina, pelo espírito agregador que seus hóspedes costumam ter.
Sentados à grande mesa comunitária, nos apresentamos e já iniciamos uma conversa a respeito da programação do dia. Enquanto eu e D. havíamos pensado em uma trilha leve para nos adaptar, a galera estava saindo para percorrer a trilha da Cachoeira da Fumaça. Pelo que havia lido, uma trilha de dificuldade média, com 6 quilômetros (12 somando a ida e a volta). Mas que exigia fisicamente durante 2 íngremes quilômetros. Em resumo, um passeio que havíamos descartado de nossa programação (pelo menos no primeiro dia).
Como estratégia de convencimento, uma das meninas mostrou o pé enfaixado dizendo que também iria com o grupo. Era o que faltava. Animados para conhecer uma das mais belas e altas quedas d’água do Brasil pensamos: se ela consegue com o pé machucado, nós também somos capazes.
Após o café um aviso da gerente do hostel: “Não esqueçam de levar água e comida. O grupo sai em 25 minutos.”
Corremos ao mercado para comprar os víveres e preparamos as coisas na cozinha. Comida e a água na bolsa. Máquina fotográfica na mochila. No horário marcado, saímos com nosso carro, seguindo a van que levava o restante do grupo.
A Trilha da Cachoeira da Fumaça
Dirigimos uns 80 quilômetros até o início da trilha na Associação de Condutores de Visitantes do Vale do Capão onde todos tivemos que nos registrar (questão de controle e segurança).
Tudo ia bem até que a trilha começou a ficar íngreme. Peguei a mochila para guardar a câmera e, vendo que D. estava suando demais, mantive-a comigo para ele descansar um pouco. Afinal, nossa média de idade equivalia ao dobro da média da idade do restante do grupo.
Sol na cabeça, peso nas costas, esforço pela subida íngreme. Comecei a ficar tonta. Sentei, bebi água, levantei e retomei. Mais alguns passos e nova sensação de tontura. Repito os procedimentos: sento, bebo água, levanto e retomo a caminhada. Na terceira vez, já era a última na fila. Comecei a ficar preocupada. Na quinta vez, com receio de atrapalhar o passeio, falei com D. que avisasse ao guia que eu retornaria para a Associação.
Antes que eu pudesse levantar, todo o grupo estava a minha volta com milhares de perguntas. Você se alimentou bem? Está bebendo água? A pressão baixou? Alguém diz para eu deitar. Outro me oferece sal. O guia está preocupado. Tento acalmá-lo, dizendo que ficarei tranquila esperando na Sede da Associação mas ele é categórico: ou vamos todos ou todos retornam. A galera me olha preocupada. Estranhamente, preocupação é com meu bem-estar e não com a possibilidade de encerramento do passeio. A velha fidelidade ao grupo. Decido continuar.
Assim, sento, bebo mais um pouco de água, grudo uma bananada sem açúcar no céu da boca (presente de uma argentina), devolvo a mochila para D. e passo minha bolsa para o guia.
Rumo ao topo da Trilha
Caminho devagar mas consigo manter o ritmo constante. Combino com o guia que nos mirantes, após as pausas para fotos, enquanto o grupo descansa, eu seguirei caminhando devagar e que, caso alcance alguma bifurcação ficarei esperando pelo grupo. É minha forma de tentar não prejudicar mais a atividade do grupo que me acolheu.
Passada parte mais íngreme, a trilha é linda. Ainda mais, florida.
Num dado momento, temos que atravessar um pequeno curso de água. No entanto, para não machucar os pés por caminhar com meias e tênis molhados, nos descalçamos e voltamos a nos calçar, no máximo, 3 metros depois.
Sem a carga adicional, já caminho bem-disposta ao lado do guia. A galera brinca perguntando de onde veio essa energia.
Quando chegamos ao topo, após quase 2:30 horas de caminhada, noto que a Cachoeira da Fumaça é formada por água de infiltração uma vez que não há água na superfície.
Nem podemos tocá-la. Pois o vento transforma em fumaça o fino veio d’água que insiste em cair pelo paredão.
Logo depois das fotos de praxe, estamos sentados. Apenas relaxando e admirando o Vale do Capão, tão verde e com penhascos encimados por lajes. Nesse ínterim abro minha bolsa e começo a tirar o lanche: ovos cozidos, sanduíches, uvas, maçãs… O guia olha incrédulo tamanho exagero. Imploramos para as pessoas comerem. Dizemos que é para não caminharmos as 2 horas de volta carregando peso. Estamos todos felizes!
No entanto, no dia seguinte, descendo o pequeno lance de escadas para tomar café da manhã, todo meu corpo retesa-se pela musculatura dolorida. Minha forma de andar, dura como um robô, diverte o rapaz na recepção.
Sorrio para ele como uma criança que, mesmo punida, orgulha-se de sua travessura e pergunto:
– Partiu, Poço Azul?
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