Tapeçaria Turca
Após desfazer as malas, pego a pequena tapeçaria turca e coloco na mesa da sala. Sorrio. Afinal, ela é a prova de nossa (in)experiência em negociação em Istambul.
Tínhamos acabado de chegar à Mesquita Azul quando fomos abordados por um rapaz informando que ela estava fechada naquele horário.
Em seguida, perguntou se gostaríamos que ele nos guiasse pelo Antigo Hipódromo. Disse que não cobraria nada como guia. Mas nossa contrapartida seria acompanhá-lo para conhecer os produtos da loja na qual trabalhava.
Eu já havia lido a respeito desse tipo de abordagem que é classificada como uma armadilha para turistas. Mas como ele se dirigiu a D., que só fala português, fiz toda a tradução.
Para minha surpresa, D. resolveu aceitar os serviços do rapaz. Quando, alarmada, perguntei se ele tinha consciência de que havia assumido o compromisso de ir até uma loja, ouvi de resposta: “Que mal pode haver?”
Enquanto caminhávamos pelo Antigo Hipódromo, nosso guia-vendedor contou que havia recém-saído do serviço militar e estava trabalhando na loja de um parente. Informou-nos sobre os pontos turísticos do local, tirou nossas fotos e, com um sorriso largo, prometeu: “Quando chegar na loja, vou levá-los ao terraço. Você terá uma bela foto.”
Na loja de tapeçaria turca
Promessa feita, promessa cumprida. Pois ao chegar a loja, ele nos leva direto ao terraço para que possamos fotografar a cidade. E ele não havia mentido. A vista era linda. Tanto que é a foto principal desse texto.
Em seguida, somos conduzidos a um ambiente privado onde somos apresentados ao dono do estabelecimento.
Uma situação que poderia gerar pânico. Mas lembro-me de que durante toda nossa viagem pela Turquia, o comércio foi a portas fechadas. Só para exemplificar, na região da Capadócia, tanto na fábrica de cerâmica quanto na fábrica de joias, após a entrada de nosso grupo, as portas foram fechadas. Da mesma forma, as saídas sempre ficavam localizadas ao lado do caixa.
Por isso relaxei e aproveitei o início do protocolo de vendas. Sim, na Turquia o ritual de venda tem todo um cerimonial.
O início da negociação da tapeçaria turca
Primeiramente, oferece-se uma bebida. Porém é grosseria não aceitar ao menos um copo de água. Dessa forma cria-se um momento que favorece o vínculo social. Em seguida, quando a bebida chega ao fim, é hora de mostrar a mercadoria.
Assumo a posição de tradutora do processo. Assim, apenas observo e analiso cada etapa de um ritual tão importante na cultura deste país.
Dessa forma, a conversa a respeito do Brasil, futebol e outras amenidades, de repente transforma-se nos tapetes das 1001 noites.
As tapeçarias são enormes e requintadas. Cada uma possui uma história, seja sobre tingimento de lã, o tipo de nó utilizado, o fio de ouro…
Divirto-me vendo que para um vendedor turco não existem barreiras. Afinal, tudo pode ser resolvido com um simples cartão de crédito.
O fim da negociação da tapeçaria turca
Até que faço uma intervenção na tradução e digo que infelizmente, nosso cartão de crédito está bloqueado e que teremos que nos manter com o pouco dinheiro que temos até conseguir resolver a situação.
Subitamente os tapetes reduzem de tamanho e tornam-se mais rústicos.
D., confiante, começa a perguntar o preço de alguns modelos. Mas não faz drama, não negocia valores e nem pede desconto. Segue o padrão ocidental do comprador acostumado a pagar o preço marcado na etiqueta.
É quando acaba o charme da negociação e ela transforma-se em uma simples compra.
Assim nossa (in)experiência em negociação, em Istambul, acabou resultando na tapeçaria turca que uso como centro de mesa.
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