Dificuldade de Comunicação em Lisboa
Sempre que D. fala para amigos dele que nós viajamos sozinhos por esse mundão, sempre ouvimos: Mas como você se comunica? Você fala inglês? Ou seja, a dificuldade de comunicação demonstra-se a maior preocupação.
Falar uma segunda língua realmente facilita. Mas nem sempre encontramos um interlocutor que fale inglês. Assim, se a pessoa estiver disposta, a comunicação acontecerá de várias maneiras: gestos, mapa, tradutor do celular…
No entanto, o mais divertido é ver a cara de incredulidade das pessoas quando dizemos que o lugar em que tivemos maior dificuldade de comunicação foi em Lisboa.
Inacreditável. Uma vez que falamos a mesma língua. Embora apenas oficialmente. Porque, o português falado no Brasil é infinitamente diverso do falado em Portugal. Não apenas no sotaque, como também em palavras e expressões do dia a dia. Mas, principalmente, na lógica de pensamento. Pois era essa a diferença que mais nos exauria.
Nossa dificuldade de Comunicação
Apesar de eu e D. sermos brasileiros e estarmos em Lisboa, ficou claro que a dificuldade de comunicação iria nos enlouquecer. Já nos primeiros momentos na cidade.
Imagine você que nós não havíamos conseguido adquirir os tíquetes do trem para Madrid através do site da RENFE a empresa prestadora do serviço.
Assim, nossa primeira providência em Lisboa, após deixar as malas no hotel, foi ir até a Estação Santa Apolónia para comprar os tíquetes para um trem noturno para Madrid.
Assim, compramos nossos bilhetes de metrô e desembarcamos no subsolo da Estação Santa Apolónia de onde o sistema de escadas rolantes nos levou à superfície. Estávamos no meio da estação de trem.
Como não sabíamos onde adquirir os tíquetes desejados e vimos o ponto de informação ao turista, fomos até lá. Uma vez que tenho consciência das diferenças linguísticas, enquanto caminho, formulo uma frase substituindo termos utilizados no Brasil pelos utilizados em Portugal.
A primeira vez não se esquece:
Assim, falo para o educado rapaz que nos atende:
– Bom dia! Gostaria de saber como faço para adquirir os bilhetes para o comboio que parte à noite para Madrid.
– Vá a bilheteira. Diz-me o rapaz, com uma expressão que mesclava ingenuidade e lógica.
Diante da resposta inusitada, quase surreal, continuo:
– Certo. Mas onde fica a bilheteira?
– Na entrada da estação.
Mais uma resposta lógica. Porém dessa vez, sua expressão quase me ofendia. Pois estava claro que me tratava como se eu fosse parva*.
Tento não levar para o lado pessoal. Respiro buscando o auto-controle. Enquanto mantenho o sorriso, faço a terceira pergunta:
– E onde fica a entrada da estação?
Neste momento, ele parou de me tratar como parva. Pois entendeu que eu havia emergido das escadas rolantes do sistema de metrô em vez de passar pela entrada da estação.
Assim, fez o que qualquer atendente de informação ao turista, de qualquer lugar do mundo, teria feito ao responder à primeira pergunta: Elucidou a minha dúvida.
– Saindo daqui, vire a direita e vá em frente. Haverá uma obra. Passe por ela e continue em frente. Na entrada da estação, vá a bilheteira 2.
Agradeci e, junto com D. seguimos as instruções que, por sinal, foram perfeitamente precisas.
Assim, durante nossa estada em Lisboa parecia que estávamos sempre conversando com o filho de um primo distante que, implicante, sempre responde ao pé da letra.
Foram três dias em Lisboa. Três dias durante os quais precisamos fazer várias perguntas para obter uma informação. Dias em que precisamos lidar com uma inacreditável dificuldade de comunicação.
* Parvo = indivíduo tolo, pouco inteligente.