Visita a um Templo Xintoísta, em Tóquio
Não sei se acontece o mesmo com você. Mas sempre que estou viajando e vejo uma igreja, eu entro e oro. Agradeço a dádiva de estar ali e peço proteção para minha jornada. Um simples e despretensioso ato de fé. Mas desta vez, era diferente. Eu ansiava por agradecer pela proteção. A solução foi fazer uma visita a um templo xintoísta.
Era manhã de nosso último dia em Tóquio. Eu organizava documentos e verificava horários. Desse modo descobri que havia comprado bilhetes de trem para o aeroporto errado. Gelei! Como pude cometer um erro tão primário?
D., que estava tranquilamente tomando um café, notou a tensão em meu rosto. “O que foi Bela? Qual o problema?”
Pirei. Acessei a internet pelo celular. Enquanto digitava, rapidamente explicava que na chegada, ainda no aeroporto de Narita, havia adquirido uma promoção do bilhete de trem ida e volta pois, seduzida pela economia e cansada da viagem, sequer lembrei que não voltaríamos àquele aeroporto.
Falava olhando para o celular. Digitava compulsivamente pois precisava descobrir como chegar ao aeroporto de Haneda. Preocupado com minha reação, D. repetia como um mantra: “Calma… Respira… Calma… Respira…”
Mas um sentido de urgência me fazia ignorá-lo. A viagem estava sendo perfeita. Eu tinha que consertar essa falha grosseira.
Enfim descobri que do Terminal de Ônibus Expresso partem ônibus para o aeroporto de Haneda. O mesmo terminal que usamos quando fomos ao Lago Kawaguchi, ver o Monte Fuji. Neste momento, a calma me invadiu e voltei a respirar.
A visita a um Templo Xintoísta, em Tóquio
Agora, com as passagens do ônibus expresso para o aeroporto em mãos, eu precisava agradecer.
Lembrei de um pequeno santuário próximo ao hotel. Inegavelmente, o Templo Xintoísta Naruko Teijin, em Shinjuku, é uma ilha de paz em uma cidade tão elétrica como Tóquio.
D. me acompanhou. Assim, atravessamos o Torii, o tradicional Portal vermelho dos santuários xintoístas. Passamos pelo Sando, com seu pequeno jardim bem cuidado. Em seguida vimos a fonte de água destinada ao ritual de purificação das mãos e da boca.
Sem saber como nos portar, ficamos alguns minutos absorvendo a paz do lugar e observando as pessoas. Afinal, não desejávamos ser desrespeitosos num local sagrado.
O Santuário Naruko Teijin está localizado em uma travessa. Dessa forma, quase todas as pessoas que passam por ali realizam seu ritual espiritual. Assim, não demorou muito para que meu espírito pouco evoluído começasse a divagar sobre suas intenções. Certamente a colegial pedia sucesso escolar e senhorinha, provavelmente apelava por boa saúde. Mas e o rapaz com jeito de yuppie, sua oração seria de fundo profissional ou emocional?
Saio do transe provocado pelos devaneios a tempo de ver um rapaz sorridente aproximando-se. Respeitosamente, entrega-me um folheto. Pelo visto eu não era a única ali exercendo a observação.
Em síntese, o folheto em inglês fornecia, além de informações sobre o templo, as instruções para realizar minha oração.
Praticando o Ritual Omairi
Dessa forma, em um templo consagrado ao kami do aprendizado, fico de frente ao altar. Puxo a corda do sino para saudar a divindade. Curvo-me profundamente duas vezes. Bato palmas duas vezes para expressar respeito. Com as mãos unidas, agradeço pela proteção, pela oportunidade de aprendizagem e pela cultura adquirida. Por fim, curvo-me mais uma vez e, com o coração e a alma mais leves afasto-me do altar.